17 de maio de 2010

ALGUNS CONCEITOS IMPORTANTES

A Sessão de Psicodrama/ Sociodrama – Fases, Contextos e Instrumentos.

a) O Psicodrama/Sociodrama é caracterizado por três fases distintas:
- Aquecimento: Pode ser específico ou inespecífico. No aquecimento inespecífico o objetivo é o surgimento do protagonista/tema, que deverá ser aquecido para a ação dramática com um aquecimento específico para esse fim.

- Dramatização: É quando ocorre a ação dramática propriamente dita. O protagonista/grupo é levado a representar as figuras de seu mundo interno, presentificando seu conflito no cenário.

- Compartilhar: Fase em que o grupo é levado a expressar aquilo que o tocou emocionalmente, sentimentos despertados e vivências em conflitos semelhantes a da dramatização.

b) Os contextos que fazem parte da sessão de Psicodrama são
- Contexto social: É a realidade social. O tempo cronológico é normal, medido por calendário e pelo relógio, o espaço é concreto, sendo regido por leis e normas sociais que ditam padrões de conduta e compromissos. Possibilita pouco grau de liberdade.

- Contexto grupal: É a realidade do grupo. O tempo cronológico é anteriormente combinado e estabelecido, o espaço é concreto (que pode ser escolhido e delimitado), sendo regido pelo grupo, estruturando-se sobre uma desvinculação de modelos controladores, coercitivos e destrutivos com maior grau de liberdade que o anterior.

- Contexto dramático: É a realidade dramática (imaginária e da fantasia). O tempo é subjetivo, o espaço é fenomenológico e virtual (mas construído sobre o espaço concreto e demarcado), estruturando-se no “como se fosse”, dando assim a oportunidade, de que em ambiente protegido, as pessoas possam vivenciar sua estória num grau de liberdade ampliado.

c) Os instrumentos do Psicodrama/Sociodrama são:
- Cenário: é o local onde ocorre a ação dramática.

- Protagonista: é o sujeito que emerge para a ação, com consentimento grupal, por simbolizar os sentimentos comuns que permeiam o grupo.

- Diretor: Terapeuta que dirige a sessão de Psicodrama.

- Ego-auxiliar: Terapeuta que interage em cena com o protagonista, comunicando ao diretor aspectos adicionais, advindas da de sua interação diferenciada com o protagonista. Em alguns casos, essa função pode ser executada por um dos integrantes do grupo, escolhido pelo protagonista, sendo então chamado de ego-auxiliar espontâneo.

- Público: é o grupo terapêutico participante da sessão, que serve como caixa de ressonância para o protagonista por seu compartilhar na ultima fase da sessão.

d) Principais Técnicas do Psicodrama/Sociodrama:
- Duplo: o ego-auxiliar, ou em alguns casos, o próprio diretor, adota a postura corporal do protagonista entrando com ele, em sintonia emocional, no intuito de expressar verbalmente, aquilo que o protagonista evita ou não consegue perceber.

- Espelho: é uma técnica de manejo delicado, pois, o protagonista pode se sentir em zombaria, quando o ego-auxiliar o imitá-lo (espelhar fidedignamente) em todos os seus movimentos e expressões. Em outra forma, retira-se o protagonista da cena e este passa a assisti-la de fora, com um ego-auxiliar desempenhando seu próprio papel.

- Inversão de papéis: Embasada na terceira fase da Matriz de Identidade, a técnica consiste em trocar o papel que o protagonista esta desenvolvendo com o de seu interlocutor ou interlocutores. Se bem aplicado produz benefícios terapêuticos consideráveis.

- Solilóquio: Técnica em que a presença do ego-auxiliar não se faz necessária. Solicita-se ao protagonista a falar em voz alta o que está pensando, seja em relação ao diálogo ativo, ou em relação a qualquer outro tema que esteja em desenvolvimento.

- Concretização: técnica de representação de objetos inanimados, partes do corpo, doenças, emoções, sentimentos, entre outras, através de imagens, movimentos ou fala dramática. Tornar manifesto o conteúdo daquilo que é simbólico.

- Apresentação do átomo social: utilizada geralmente em entrevistas iniciais e diagnósticas, consiste numa apresentação específica, onde o protagonista é levado a apresentar o conjunto de seus vínculos importantes e significativos. Recomendo para esse fim a utilização de pequenos bonecos de pano, que facilitam a visualização de fatores considerados importantes, como a ordem de apresentação, a distância entre os bonecos, o modo de colocação (mais afetiva ou menos afetiva), etc.

- Interpolação de resistência: Moreno utilizou esse nome para vários procedimentos técnicos, que tem em comum o fato de visarem “contrariar” disposições conscientes e rígidas do protagonista. Permitem ao cliente ter acesso a novos pontos de vista, mais flexibilidade em suas posições relacionais e buscar caminhos mais produtivos para sua tele-sensibilidade.

O Conceito de Papel:
O termo papel foi tomado de empréstimo do ambiente teatral e tornou-se um dos pilares da teoria moreniana.

Segundo Moreno o termo papel pode ser definido como:

“Forma de funcionamento que o individuo assume no momento específico em que reage a uma situação específica na qual outras pessoas ou objetos estão envolvidos”. (MORENO, 1983(1), pg. 27)

Uma característica importante do “papel” é que ele pode ser observado. Por essa característica, Moreno acredita que seu conceito poderia ser mais apropriado do que o conceito de personalidade.

Outra característica relevante é a questão de complementaridade, pois para cada papel, sempre haverá seu contra papel, pois como diz Almeida:

“...todos os papéis são complementares em do outro. O papel de professor só existe se houver o complementar de aluno e vice-versa.” (ALMEIDA, 1998, pg. 30)

Segundo Bermudez (1970) o processo de aprendizagem de um papel chama-se “treinar o papel” (role-playing). Ao processo de desempenhá-lo, atendo-se as suas características, “assumir o papel” (role-taking), e ao de enriquecê-lo ou modificá-lo, “criar o papel” (role-creating).

Segundo a classificação moreniana, temos três tipos fundamentais de papéis:

- Papéis Psicossomáticos: são os papéis ligados as funções fisiológicas indispensáveis, como comer, dormir, defecar, etc.

- Papéis Sociais: São os papéis que correspondem às funções sociais assumidas pelo individuo e por intermédio dos quais ele se relaciona com o ambiente.

- Papéis Psicodramáticos: também chamados de “papéis psicológicos”, são todos os papéis que surgem da atividade criadora do individuo.

Os Conceitos de Espontaneidade/Criatividade, Tele/Transferência, Conserva Cultural e Catarse de Integração:

- Espontaneidade e Criatividade: A criatividade não pode ser separada da espontaneidade, pois este último é um fator permissivo para o potencial criativo atualizar-se ou manifestar-se. No ínicio da humanidade as pessoas aprenderam a utilizar o fogo e ferramentas, e através desta ação espontânea e criativa determinaram o futuro de uma raça. Segundo Bermudez a espontaneidade no sentido dado por Moreno é a capacidade de um organismo em adaptar-se de forma adequada a novas situações.

Segundo a teoria moreniana, o bebê nasce espontâneo e criativo e com o passar do tempo vai sendo cerceado dessas características pelo contexto social. Sem a espontaneidade e criatividade o homem adoece. É tarefa primordial a liberação da espontaneidade e criatividade, escapando das conservas culturais.

- Conserva cultural: É produto da criatividade, aspira ser o produto terminado do processo criador e como tal assumem um caráter quase que sagrado. A Conserva Cultural pode ser considerada a matriz cultural, científica, tecnológica, artística, lingüística etc., onde ocorre a cristalização de uma ação criadora em um produto que fará parte do acervo cultural de uma sociedade.

Se o homem se detiver num demasiado respeito ao já produzido, conservando e cultuando o que está pronto, limitará sua espontaneidade. Por esse motivo, as conservas culturais devem constituir apenas o ponto de partida de uma ação.

- Tele e transferência: A palavra Tele significa “à distância”. O fenômeno da Tele pode ser definido como a empatia ocorrendo nas duas direções da relação.

Em relação à transferência, Moreno limitou-se a considerá-la uma patologia da tele, sem ter interesse de aprofundar sua conceituação. Um dos objetivos morenianos é de descobrir, aprimorar e utilizar os meios que facilitem o predomínio das relações télicas sobre as relações consideradas pela visão de Moreno como relações transferênciais.

- Catarse de integração: Fenômeno que dá sentido terapêutico ao Psicodrama, onde acorre a mobilização dos afetos e emoções dentro da dramatização, possibilitando aos participantes a clarificação intelectual e afetiva das estruturas psíquicas que o limitam na atuação dos papéis psicodramáticos e sociais, abrindo assim novas possibilidades existenciais.

Bibliografia:


BARBERÁ, E. KNAPPE.P.P. A Escultura Na Psicoterapia: Psicodrama e outras técnicas de ação. São Paulo: Agora, 1999.

BERMUDEZ, J. G. R. Introdução ao psicodrama. Tradução Dr. José Manoel D Alessandro. São Paulo: Mestre Jou, 1970.

GONÇALVES, C. S. & outros. Lições de Psicodrama. Introdução ao Pensamento de J.L.Moreno. São Paulo: Ágora, 1988.

MARINEAU, R. F. Jacob Levy Moreno 1889-1974 - Pai do psicodrama, da sociometria e da psicoterapia de Grupo. São Paulo: Ágora, 1992.

MORENO, J.L. Psicoterapia de grupo e psicodrama. Tradução José Carlos Vítor Gomes. Campinas. SP: Livro Pleno, 1999.

KNAPPE, P. P. Mais do que um jogo: Teoria e prática do jogo em psicoterapia. São Paulo: Ágora, 1998.

SEIXAS, M. R. A. Sociodrama Familiar Sistêmico. São Paulo:ALEPH, 1992.

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